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domingo, 19 de setembro de 2010

Gratidão


Incrível o movimento da vida!!

Uma mesma situação nessa semana,fez-me sentir,antagonicamente,o peito oprimido e o coração grato por fazer parte da força poderosa do mundo espiritual.

Fiquei pensando no caminho longo e muitas vezes árduo que temos que percorrer para nos mantermos numa jornada de autoconhecimento e ascensão espiritual. Entendo porque tantas pessoas decidem cruzar os braços e ficar aprisionadas num mundo tão estreito e sem nenhuma tentativa de sair da zona de conforto que estabeleceram como proteção, dá trabalho ir em direção à sua própria verdade.

Falamos demais,nossas relações são vazias e geralmente estamos longe de alinharmos nossa vida à nossa alma.

A crença numa realidade "sólida" e materialista nos mergulha na ilusão de que tudo aquilo que vemos e controlamos é o que é real. Quimera de uma mente que aprendeu a acreditar que a percepção está limitada aos cinco sentidos.

Estamos sonhando um sonho.

Se conseguirmos transcender a esse domínio opressor poderemos contemplar outras realidades e vivermos verdadeiros milagres.E o tempo e o espaço revelarão uma abertura dimensional,autênticos portais que nos apontarão para possibilidades infinitas.

Mas essa transição só será feita através do coração, só a frequência do amor é capaz de expandir a consciência e silenciar a mente. Assim a ponte estará construída em direção ao Amor Infinito que é a única verdade.

Ultrapassar a ignorância, o ordinário e o desconhecimento nos colocará em estreito contacto com inúmeras experiências divinas e sagradas que darão um brilho renovado em nossas vidas.
Ruth Janiques

sábado, 18 de setembro de 2010

Passeio Socrático

“PASSEIO SOCRÁTICO”

Por Frei Beto.

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos, e em paz nos seus mantos cor de açafrão…
Em outro dia, eu observava o movimento do Aeroporto de São Paulo: a sala de espera estava cheia de Executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado o seu café da manhã em casa; mas, como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos vistos por mim, até aqui, realmente produz felicidade?”.
Passados alguns dias, encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?”. E ela me respondeu: “Não. Eu só tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom! Isto significa, então, que, de manhã, você pode brincar, ou dormir até mais tarde!….”. “Não!”, retrucou-me ela, “tenho tanta coisa a fazer, de manhã…”. “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada…
Fiquei pensando: “Que pena! A Daniela não me disse: “Tenho aula de meditação”. Vê-se que estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas, emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo… Mas, preocupo-me com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos. Alguns perguntaram “Como estava o defunto?”. E outros responderão: “Olha…, uma maravilha, não tinha uma celulite!”…
Mas, como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação, porém, de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais…
A palavra hoje é “entretenimento”. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil, o apresentador; imbecil, quem vai lá e se apresenta no palco; imbecil, quem perde a tarde diante da telinha… E como a publicidade não consegue vender felicidade, ela nos passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro…, você chega lá!”.
O problema é que, em geral, “não se chega”! Pois, quem cede a tantas propagandas desenvolve, de tal maneira, o seu desejo, que acaba precisando de um analista, ou de remédios. E quem, ao contrário, resiste, aumenta a sua neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: a amizade, a autoestima e a ausência de estresse.
Mas há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings Centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de “missa de domingo”. E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, não há crianças de rua, não se vê sujeira pelas calçadas…
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno: aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se vários nichos: capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Mas, aquele que só pode comprar passando cheque pré-datado, ou a crédito, ou, ainda, entrando no “cheque especial”, se sente no purgatório. E pior: aquele que não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno…
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald…
Por tudo isto, costumo dizer aos balconistas que me cercam à porta das lojas, que estou, apenas, fazendo um “passeio socrático”.. E, diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou, apenas, observando quantas coisas existem e das quais não preciso para ser feliz!”.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

INDIO EM CHAMAS



In Memorian de Galdino Jesus dos Santos

As chamas de almas mortas
Se movem.
Mais um índio cai inerte
Envolto pelas flamas ignotas
De um desdenhar que perverte.
Almas que se ocultam entre chamas
Para destilar ódio, amargura, desdém
E, surdas, em suas tramas,
Não escutam um ser considerado ninguém.
Em meio àquelas labaredas, terminal
De sonhos, esperanças, calor...
De madrugada seca e infernal
Tudo vira tocha em macabro ardor.
Vislumbramos a solidão do deserto
Que há em todos nós, que navegamos
Em mar vermelho e incerto
De tubarões gélidos que encontramos.
Era um Pataxó que quisera ser
Mendigo de suas próprias heranças
Destronado que fora dos sonhos de ter
Suas matas, habitadas de lembranças.
Recebeu sua parte comendo o pão
Buscado sob mesas fartas,
O seu pedaço de chão:
Em chamas, à semelhança de suas matas.
(desconheço o autor)

sábado, 11 de setembro de 2010

A Serpente


Assim que chegamos, fomos imediatamente instaladas em bangalôs bonitos e confortáveis. Escolhemos as camas e distribuímos nossas malas por todos os cantos do quarto. Mais uma vez estávamos juntas e animadas com o que nos esperava nesse encontro. O riso livre e o barulho de todas falando ao mesmo tempo emoldurava aquele dia de expectativas.

Procurei uma cama encostada na parede e sentei-me observando o movimento dentro e a natureza que revelava-se através da porta aberta.

De repente, custei a acreditar no que meus olhos viam, uma enorme cobra adentrava sorrateira e silenciosamente. Ela era grande, branca com desenhos vermelhos e de uma beleza exuberante .

Nunca imaginei que algum dia fosse me render à perfeição estética de um ofídio, mas aquilo estava acontecendo exatamente alí e parecia que ninguém via. Como não sentia medo cheguei a pensar que ela tinha me petrificado com seu olhar, embora ainda tenha conseguido avisar minhas amigas de sua presença. Imediatamente ela deslizou para debaixo de uma das camas e todas riam da minha possivel brincadeira.

Fui arrancada da hipnose e da dúvida de minha sanidade com o pouso de uma ave pernalta na cabeceira de uma das camas a me observar. Admiradíssima e intrigada minha atenção voltou-se novamente para a cobra que agora serpenteava na minha direção. Aproximou-se, subiu ao meu lado, abriu a boca evidenciando poderosas presas e de dentro de sua garganta saiu um clarão rápido e intenso.

Foi um susto tão grande que acordei.
Ruth Janiques