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domingo, 7 de novembro de 2010

REFORMA



O Prédio onde moro está passando por uma reforma na fachada. Ao sermos avisados do início das obras, não imaginávamos o transtorno ou melhor dizendo o inferno que íriamos adentrar.
Dante sentiria inveja!!!!

Andaimes, baldes, picaretas e homens pendurados, transitando suspensos em seus malabarismos, invadem sem nenhum pudor nossa rotina. Através das cortinas cerradas, vultos voando desafiam a gravidade causando-nos sustos a todo momento.

As paredes, janelas de vidro, móveis e particularmente nossas cabeças vibram com as batidas violentas desferidas para retirar o revestimento antigo. Como é difícil desfazer-nos daquilo que é antigo, que nos acostumamos mesmo estando tão feio...Fico pensando como seria mais cômodo deixar tudo como estava.

O caminho invisível que a poeira percorre, já que tudo está fechado, não impede que ela deite um manto espesso sobre cada objeto e no espaço entre eles. A vontade é dar um banho demorado em cada cantinho e colocar aquele perfume de casa limpa.

Agora multiplique tudo isso por dois e imagine o que estamos vivendo.

Mas o que tem me incomodado com maior intensidade é uma rede que vestiu o prédio de cima a baixo, para impedir que os detritos sejam arremessados longe. Geralmente quando estamos modificando algo e não tomamos o devido cuidado acabamos machucando aquele que está bem próximo da gente.

A tela ou rede não nos impede de vermos tudo do outro lado, mas não temos total nitidez. Ela filtra o vento, as cores, os pássaros que faziam festa na minha varanda e principalmente o meu olhar.

Preciso do céu com todo o azul que ele pode ser e da delícia de acompanhar o movimento das nuvens e experimentar a transitoriedade do tempo. Tudo passa!!!

Sinto falta da visita dos beija-flores e de ver a vida com todas as cores.

Às vezes o vento desloca a rede e consigo vislumbrar uma nesga do dia ou da noite e desejo o instante em que poderei sair dessa caverna platônica e poder ver e sentir o mundo real.

Uma tela diante de meus olhos...

O quê da minha história, da minha jornada ainda não consigo ver???

Qual o véu de ilusão que tenho que descerrar???

O que é real e o que é ilusão???

Reflexões que apontam a necessidade de uma obra na minha casa interior. Nada que impeça, paralelamente, uma reforma na fachada externa; como emagrecer, cortar e pintar o cabelo, fazer as unhas, um acessório colorido e um sorriso de esperança.

Não é nada fácil retirar os inúmeros véus de ilusão, mas cada um que consigo abandonar, mesmo atravessando quilos de poeira que lacrimejam meus olhos, apontam o caminho para uma vida mais plena e leve. Ruth janiques

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